Interação Urbana participa do Líder Sebrae em Rondônia
ENTREVISTA: MAURO ZANIN
Apoiar lideranças na busca de soluções conjuntas e viáveis para o desenvolvimento local é um dos pilares do Programa Líder Sebrae, que desde 2008 vem orientando a formação de grupos de empresários e lideranças políticas em torno de uma agenda comprometida com o avanço socioeconômico do país sob um foco regional. A Interação Urbana participa como facilitadora do Programa Líder desde 2017, quando foi convidada a integrar o núcleo do Rio de Janeiro. Em 2019, essa participação foi ampliada com a presença de Mauro Zanin, diretor da Interação Urbana, como consultor convidado dos dois núcleos do Líder Sebrae em Rondônia. Nesta entrevista, Zanin fala sobre a importância do modelo participativo do Sebrae nos polos da Região Central e do Cone Sul e nas oportunidades que Rondônia oferece para a integração de interesses públicos e privados.
Interação Urbana – Fale um pouco sobre a proposta do Líder Sebrae.
Mauro Zanin – O Líder é um programa do Sebrae Nacional, que se propõe a fomentar o desenvolvimento de regiões do Brasil aglutinando vários municípios de um território. Ele recruta lideranças locais, não só do setor público, mas do privado e da sociedade civil. A primeira etapa do programa é formar um grupo e buscar sua coesão, estimulando a cultura da cooperação; depois, com o apoio de facilitadores aptos a se envolverem no projeto, o grupo constrói uma agenda para o desenvolvimento de seu território. O programa tem oito etapas e encerra-se com uma discussão sobre a governança dessa agenda. Cada módulo traz palestras de pessoas com perfil de realizadores em seu próprio território ou que tenham alguma experiência a ser contada ao grupo, de modo a fomentar ou criar instrumentos para a criação de um desenho próprio para a região. O programa começa com palestras motivacionais e vai se aproximando do planejamento, do qual eu participo. Fui palestrante do quarto encontro – que visa trazer mais embasamento ao plano de desenvolvimento do território.
Interação Urbana – Como se dá sua participação no programa?
Mauro Zanin – Tanto eu quanto o Marco Aurélio Myrrha (também sócio diretor da Interação Urbana) somos credenciados pelo Sebrae para atuarmos como facilitadores do Líder e acompanhar o projeto inteiro, mas não estamos desempenhando este papel no momento. No programa de Rondônia, especificamente, atuei como palestrante, levando ao grupo uma visão dos indicadores locais e regionais – algo que fazemos hoje na Interação Urbana. Considero importante saber como está a infraestrutura, a educação e a saúde do território para traçar metas, projetos e eixos para o desenvolvimento, sempre lastreados na realidade do território e em pesquisa secundária, evitando assim a ocorrência de proposições sem embasamento.
Interação Urbana – De posse desses dados, qual é a mensagem que você leva ao grupo? Que tipo de provocação é possível fazer para melhorar a realidade?
Mauro Zanin – Primeiro, devemos definir o que é desenvolvimento regional e fazer a leitura de indicadores, a fim de acompanhar o desenvolvimento. Com isso, saímos do marco zero e vamos a algum lugar. Além disso, destaco que confiar o desenvolvimento ao poder público é muito limitado, porque os recursos são poucos e a capacidade de ser efetivo é prejudicada. Procuro mostrar à plateia a limitação do poder público em ser o agente único responsável pelo desenvolvimento. De fato, já foi demonstrado que só através de política pública o desenvolvimento não vai acontecer, pois tem suas limitações. Depois, vou mostrando como pode-se envolver os atores sociais nessa agenda, a iniciativa privada local e regional.
Interação Urbana – Existe algum exemplo concreto em que o envolvimento dos vários atores sociais foi bem-sucedido?
Mauro Zanin – Conto o case da Klabin no território do Paraná, onde pensou-se em diretrizes para o desenvolvimento de uma região. Foram 27 diretrizes para o território fortalecer suas instituições, a economia local, o social. O olhar de um grupo privado para essas diretrizes ajuda a aproximá-lo do interesse público em temas que são caros aos dois lados. Essa é a grande essência da minha mensagem: é possível alinhar os interesses público e privado. Se o poder público pretender resolver os problemas da sociedade sozinho, ele não vai realizar, vamos ficar nessa situação que conhecemos, esperando a solução cair do céu eternamente.
Interação Urbana – Você então é um facilitador desse processo…
Mauro Zanin – Estou apto a ser um facilitador e também um palestrante. Em Rondônia, atuei como palestrante.
Interação Urbana – Na sua opinião, que potencial para o desenvolvimento tem o programa de Rondônia?
Mauro Zanin – É bom poder falar aqui do que eu vi lá no território. Em Rondônia, o evento aconteceu em dois grupos. Um grupo na Região Central do Estado e outro no chamado Cone Sul. No Cone Sul, a cidade foi Vilhena e na Região Central, Ji-Paraná. Voltei maravilhado com as oportunidades de Rondônia. O Estado tem desafios a enfrentar, mas lá a migração é recente, proveniente do Sul do país, especialmente Paraná e Rio Grande do Sul. Lá, os movimentos de incentivo às áreas já aconteceram, mas agora chegou o agronegócio em grande escala. Vão se formar regiões ricas, como está acontecendo no Mato Grosso com os municípios de Sorriso e Sinop, onde palestrei também. São terras de oportunidades. Um projeto como este do Sebrae, nesse território e neste momento, é diferente do de outras regiões já consolidadas, onde procura-se resgatar a autoestima. Lá está tudo por fazer. Essas cidades têm apenas 40 anos e 200 mil habitantes.
Interação Urbana – Existe condição, em uma palestra dessas, mesmo com dados locais, de propor ações de melhoria?
Mauro Zanin – O próprio projeto trabalha com eixos. Sempre há eixos de desenvolvimento econômico, de fortalecimento da educação, seja profissionalizante ou educação básica, e algum eixo de infraestrutura. Em Rondônia o cenário é claro. O Estado tem uma rodovia federal, uma BR, que leva o nome do marechal Rondon e liga uma ponta, que é Vilhena, a Porto Velho. Todo o desenvolvimento gira em função dessa rodovia de pista única, que cruza o Estado inteiro. Então, é claro que ali há necessidade de infraestrutura. Como você faz escoamento de produção, enfrenta os problemas de segurança? Por isso é importante construir uma agenda comum e acessar outras esferas de governo, em vez de ficar pedindo varejos pontuais. Aí você tem um foco do que é prioridade.
Interação Urbana – Como você acha que a Interação Urbana pode ajudar esse grupo?
Mauro Zanin – Existem empresas hoje no Brasil – como a Interação Urbana – que operam o investimento social privado, ajudando o território, estudando, dando consultoria, sendo financiadas pelos grupos privados que têm interesse na região. O caso da Klabin, do qual estamos participando, é um exemplo no Paraná. Em Rondônia existem empresas como a Cargill, porque a soja está entrando lá, e uma grande bacia leiteira, que atraiu a empresa Italac, por exemplo. Se o grupo de Rondônia organizar a iniciativa privada e ela tiver um olhar para potencializar o desenvolvimento, isso pode acontecer lá também.
Interação Urbana – Você já diz que o estímulo ao investimento social não é a isenção de impostos. O que incentiva esses investimentos?
Mauro Zanin – O incentivo deve estar alinhado à estratégia do negócio. Por exemplo, se a região possui uma bacia leiteira e a empresa precisa de mais leite, ela pode apoiar o fortalecimento dessa bacia leiteira, inseminação de gado, enfim, algo alinhado ao negócio. O leite vem da zona rural. Como esse leite chega? Por quais estradas rurais? Andar próximo ao poder público é bom para a empresa que está lá. Ela pode amarrar as agendas, inclusive da estrada rural. Ao mesmo tempo tem a questão social, porque alunos são transportados na mesma via. Essa é a aproximação das agendas com interesse direto do setor privado, que não está ali para fazer o social, afinal o imposto já foi recolhido, mas se há algo que ele possa fazer que traga benefício social e que também traga benefício estratégico para o negócio, além de relacionamento, isso é perfeito.
* Mauro Lúcio da Cunha Zanin é sócio diretor da Interação Urbana, onde lidera projetos de investimento social privado que visam a organização e a profissionalização da administração pública. Economista com especialização em recursos humanos, contabilidade e finanças, foi prefeito por dois mandatos do município de São Sebastião do Paraíso (MG), além de atuar como secretário de Educação, Planejamento e Gestão do município. Também foi presidente e diretor da Associação de Municípios do Médio Rio Grande e diretor da Associação Mineira de Municípios.