A agenda global e o investimento social privado direcionado ao setor público
O investimento social privado já tem uma agenda global: os ODS
Por Mauro Zanin
Em um momento em que os principais líderes do planeta discutem uma agenda global para o clima, por meio da COP26, é oportuno lembrar que o mundo já dispõe de uma agenda global para enfrentar outros desafios urgentes da Humanidade. Estamos falando dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (https://brasil.un.org/pt-br/sdgs), da ONU, que trazem diretrizes e estratégias para o enfrentamento de desafios já diagnosticados para questões ambientais, de bem-estar da população e para o combate às desigualdades sociais, inclusive entre nações.
Os ODS refletem o cuidado com os nossos recursos naturais, com a água, com a qualidade do solo e com as nossas florestas. São esses recursos que, bem-cuidados, trarão longevidade com qualidade de vida às pessoas – enfim, uma visão de sustentabilidade que alcança as novas gerações. Pois o investimento social privado tem hoje essa agenda global: os ODS. É a agenda escolhida pelos grupos empresariais para nortear suas ações.
Cabe aqui lembrar que, nos objetivos do milênio, em 2000[1], a responsabilidade do poder público para enfrentar os desafios globais era muito maior em relação ao cumprimento dessas metas. Depois, “caiu a ficha” para os líderes globais que, por mais que o poder público tenha a obrigação de cuidar do todo e devolver à sociedade os recursos que são próprios a ela, o setor público sozinho não dá conta dessa tarefa. Foi quando vieram os ODS (2015).
É por isso que hoje o setor privado direciona os seus investimentos levando em consideração esses objetivos sustentáveis. Essa agenda serve para toda a sociedade civil organizada, para as famílias e até para as escolhas individuais. Ao trazermos essas práticas para nossas casas, a soma dessas ações vai melhorar o mundo em que vivemos.
Mas como o investimento social privado entra na esfera social? O setor privado tem a sua função, a sua razão de existir e a sua missão, que é lançar produtos no mercado e gerar remuneração ao capital do investidor. Mas ele transcende essa missão quando investe no social, seja para mitigar impactos do negócio, seja porque deseja fazer investimentos voluntários. Em qualquer um desses casos, vemos hoje grupos empresariais que alinham sua estratégia de investimento social a essa agenda global. Nós, da Interação Urbana, operamos esses investimentos sociais e aqueles ligados ao ODS 17, por exemplo, que trata da parceria entre as entidades no apoio à gestão pública.
Quando falamos em apoiar a gestão pública sob a ótica do investimento social privado é preciso dizer que o ente federado “município”, ou o poder Executivo municipal, tem também uma agenda já estabelecida pelo modelo federativo, conforme a Constituição Federal e as leis complementares que regem o seu papel nos temas que são de sua responsabilidade. E que temas são esses? Construir e manter a infraestrutura da cidade, zelar pela educação pública nos níveis que são de sua obrigação legal, participar do SUS (Sistema Único de Saúde) cumprindo seu papel na atenção básica e assim por diante. O executivo tem essa agenda. Além disso, existe a agenda do próprio agente político (o mandatário eleito), que tem seu plano de governo, que é um planejamento eleitoral pactuado com a sociedade durante o pleito. E além disso há ainda a agenda global de que falamos.
Então, do nosso ponto de vista, quando se trata de gestão pública, não é preciso reinventar a roda, nem discutir a missão etc., pois o papel do poder público está claramente estabelecido nas normas e também nessa agenda de trabalho. Basta darmos conta de trazer a agenda global e de auxiliar os territórios onde as empresas têm os seus negócios a direcionarem a sua atuação pública para cumprir essa agenda – uma agenda que não é só daquele território, mas é global, resguardada a especificidade, a maturidade e o nível de desenvolvimento de cada comunidade.
Em vez de reinventar o mundo, cabe desenvolver com o município as ferramentas de planejamento, de monitoramento, de organização do poder público, para que essa agenda possa ser implementada e, acima de tudo, que os resultados sejam alcançados, que os indicadores de impacto possam ser medidos e ocorra a transformação positiva da realidade. Esse é o papel da Interação Urbana e temos muita firmeza de propósito em relação a isso.
Os investimentos sociais privados vão muito além de fazer brainstorm com os territórios, descobrir sua missão, razão, valores etc. Isso já está bem definido nas normas e leis que regem a forma como o poder público deve devolver à sociedade seus serviços e a sua atuação. Além disso, também existe essa agenda global, de validade entre os países, que propõe como devemos agir, individual e coletivamente, para que as transformações possam impactar positivamente o ambiente, de modo a trazer prosperidade e oportunidade a todos.
Existem duas questões colocadas: a primeira é que a agenda está posta. Se eu não concordo com parte dela, não preciso dar ênfase a essa parte. Mas também não preciso criar uma agenda nova. A outra questão diz respeito ao papel das empresas. É importante que a iniciativa privada contribua com o setor público para que este se alinhe com a agenda global e juntos deem conta de implementar as estratégias propostas globalmente. Esse é o grande mote do investimento social privado. E é isso o que a Interação Urbana busca cumprir, financiada pelo setor privado, nossos clientes, que já têm essa visão de contribuir com os territórios onde eles estão inseridos.
Há, por fim, uma última questão: quando falamos em investimento social, devemos ter em mente que os grupos empresariais buscam investir no que está alinhado à sua própria agenda. Isso ocorre porque o investimento social cria a ambiência para o negócio no território, contribuindo com a obtenção de resultados. Essa é a nossa contribuição.