Uma reflexão sobre a operação dos investimentos socioambientais privados no Brasil
Por MARCO AURÉLIO DE LIMA E MYRRHA
Diretor Executivo da Interação Urbana
Foto: Do autor
O papel socioambiental das empresas tem sido cada vez mais importante, principalmente nos territórios e comunidades onde elas estão inseridas, abrigando parte de seus stakeholders. Embora o objetivo aqui não seja debater a responsabilidade social das empresas, é de amplo conhecimento que, por meio do Investimento Social Privado (ISP), muitas organizações atuantes no país repassam recursos a projetos de interesse público nas áreas de cultura, educação, saúde, meio ambiente e assistência social, entre outras.
Tais investimentos diferem de antigas práticas assistencialistas, ao conter alguns fundamentos estruturantes, como a preocupação do investidor com projetos que se traduzam em transformação social e resultados sustentáveis e de impacto; a necessidade de planejamento, monitoramento e avaliação das ações e seus resultados; e o amplo envolvimento da comunidade, a fim de legitimar as ações e contribuir de fato para o desenvolvimento regional. Além disso, é vital que tais investimentos socioambientais estejam alinhados à estratégia de negócios da empresa.
É a partir dessas premissas que surgem as questões aqui colocadas, sobre as quais precisamos refletir:
- Onde e como investir?
- Como mensurar os resultados desse investimento?
Apoio ao poder público local
A experiência da Interação Urbana, empresa de consultoria que opera investimentos socioambientais privados, mostra que parte significativa das prefeituras brasileiras apresenta deficiências importantes em gestão pública, seja na disponibilidade de seu capital humano, seja no acesso a capacitações, metodologias, equipamentos ou investimentos necessários. O resultado dessa situação, que tende a se manter pela própria alternância do mandato político, é a má qualidade dos serviços prestados à população, o desperdício de recursos públicos (e impostos recolhidos), o desequilíbrio fiscal e a perda de oportunidades para o desenvolvimento regional.
Nem todas as carências municipais podem ser satisfeitas imediatamente apenas com aporte de recursos privados – e nem se pretende isso. Algumas necessidades requerem um plano de trabalho de médio prazo e uma estratégia sustentável, para garantir a perenidade das conquistas. Com esse objetivo, algumas empresas têm firmado parcerias estratégicas com as prefeituras dos municípios onde possuem suas unidades fabris ou atividades primárias, visando contribuir para qualificar os quadros públicos em planejamento estratégico de gestão, orçamento e contas públicas, por exemplo, além de promover a cultura do planejamento e controle com metodologias e ferramentas adequadas.
Essas organizações entendem que a melhoria dos serviços públicos repercute fortemente nos indicadores sociais municipais relacionados a saúde, educação e infraestrutura urbana e rural, evolução que traz benefícios ao ambiente de negócios e pode ser associada à imagem empresarial.
Mas o que a empresa ganha, efetivamente, ao fazer investimentos sociais nos municípios? De novo, a questão: como mensurar os resultados desse investimento?
É razoável dizer que cada projeto de ISP, devido a sua especificidade, deve estabelecer seus próprios indicadores de desempenho e resultados. E que, salvo exceções, os indicadores estarão alinhados aos objetivos do aporte.
Podemos entender, como indicadores, aqueles que confirmam a realização das ações planejadas (operacionais), aqueles que transformam a realidade local (impacto socioambiental, econômico etc.) e os indicadores de resultado para o negócio, a serem estabelecidos por cada organização com base em seus objetivos específicos.
De concreto, as empresas que investem na melhoria dos serviços públicos obtêm ganhos importantes e por vezes imateriais, a saber:
- Desenvolvem melhor relacionamento com o poder público local.
- Diminuem seus custos e melhoram a aplicação das compensações ambientais e sociais.
- Reduzem eventuais impactos causados ao município por seus empreendimentos.
- Diminuem as demandas assistencialistas e não estruturantes.
- Desenvolvem uma relação forte e de longo prazo com a comunidade onde a empresa está localizada (marketing social).
- Contribuem para a melhoria da infraestrutura local, com retorno para a comunidade e seus próprios colaboradores.
Por fim, é importante lembrar que, para o êxito dessa opção (o apoio ao poder público local), a empresa privada e seus parceiros devem conquistar a confiança dos atores envolvidos; incentivar a comunicação fácil e o bom relacionamento com os agentes públicos; dispor de competência técnica e experiência (consultores) para entender as demandas públicas e propor soluções realistas e pragmáticas para os desafios apresentados. Esses são os pilares que sustentam o modus operandi da Interação Urbana na condução dos projetos de seus clientes junto a dezenas de prefeituras brasileiras nos últimos 12 anos.