O velho modelo de gerar expectativas no estilo ‘tudo farei’ caiu, diz Zanin
Fonte: Folha da Manhã
Por Adriana Dias / Da Redação
13 de outubro de 2020
Dentro do período eleitoral, a “Folha da Manhã” vem trazendo uma série de entrevistas com autoridades e personalidades ligadas ao universo da política. A primeira foi inaugurada com o juiz eleitoral da Comarca de Passos, Mateus Queiroz de Oliveira. Neste domingo, 11, trazemos o ex-prefeito de São Sebastião do Paraíso, Mauro Lúcio da Cunha Zanin, o Mauro Zanin, que saiu dos quadros da política, mas foi trabalhar com a iniciativa privada prestando serviços em empresas que acabam por ajudarem em gestões de cidades. O paraisense tem 49 anos, é casado com Regina Bertozzi Zanin, pai de duas filhas, Ana Laura e Mariana. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia e pós-graduado em Contabilidade e Finanças e em Recursos Humanos pela Universidade de Extremadura EX, na Espanha.
Filho de comerciante e professora da rede pública estadual, teve a oportunidade de trabalhar nos negócios da família. Após a formatura no ensino superior, teve breve passagem em empresa de consultoria em São Paulo. Voltou para cuidar dos negócios da família e iniciou carreira de professor em gestão empresarial (Faculdades Libertas e Escola Técnica de Formação Gerencial – Sebrae / Acissp). Neste tempo, trabalhou com consultoria na região, sendo convidado para ser secretário municipal de Educação no governo da Prefeita Marilda Melles 2001/2004. Foi também Diretor de Planejamento e Gestão, assumindo um papel maior na gestão da prefeitura. Em 2005 assumiu por dois mandatos a prefeitura de São Sebastião do Paraíso como Prefeito Municipal. Fez uma gestão buscando a profissionalização do serviço público e a atingir resultados. Foi presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande (Ameg) por dois mandatos e diretor da Associação Mineira de Municípios (AMM).
Folha da Manhã – Após sair dos quadros políticos, pois foi secretário e depois prefeito, qual a sua atuação hoje em dia?
Zanin – Atualmente sou diretor da empresa Interação Urbana, que presta serviços para grandes grupos empresariais no investimento social privado. Ou seja, dá apoio à gestão pública de municípios com financiamento privado. Uma forma de alinhar o interesse público e privado. Os interessados podem acessar o link https://interacaourbana.com.br/ para acompanhar nosso trabalho.
FM – O que mais te preocupou quando você deixou a Prefeitura de São Sebastião do Paraíso e que pode servir de alerta para os candidatos que estão disputando estas eleições agora em 2020?
Zanin – Minha maior decepção foi com minhas próprias expectativas, por acreditar que tinha deixado, com a contribuição de todos os envolvidos, uma gestão pública capaz de continuar avançando no curso do que planejamos. Funcionários públicos e a própria sociedade aceitaram mandos e desmandos, interferências de gestores centralizadores e autoritários que atrapalharam o desenvolvimento do nosso município. Pensei que servidores efetivos, bem capacitados estariam aptos a exercerem esta proteção da política pública continuada, que transcende mandatos.
Outra questão que hoje penso é o uso do Ministério Público e do Poder Judiciário para a “concorrência” política, exercendo um denuncismo que afasta pessoas da vida pública. Esta forma altera o debate por ideias e projetos que visem o bem comum, coletivo. Muitos exercem a política pela política, esquecendo que existe um propósito maior. Um fator pessoal, que foi um bom desafio, o de ter que recomeçar a vida privada. Estava há 12 anos na prefeitura, vivendo de remunerações como se fosse um servidor público. O tempo de fortalecer minha atividade profissional privada passei dentro do serviço público, com dedicação exclusiva. Foi realmente um recomeçar.
FM – Em sua avaliação, a nossa região está carente de lideranças políticas em nível estadual e federal?
Zanin – Penso que temos nossa representação, dois deputados estaduais e um federal, e um senador. Se aproveitarmos nosso potencial de votos podemos ter uma representação ainda maior (dentro de uma visão distrital, votar em pessoas de nossa região). É muito importante nos enxergamos como uma região, não os municípios isoladamente. Hospitais de grande porte são da região, escolas técnicas e universidades são da região, segurança só se efetiva de maneira integrada, saneamento, infraestrutura rodoviária e turismo, da mesma forma. Precisa existir uma agenda, com os representantes assumindo compromisso com ela. Ainda temos resquícios muito ruins do assistencialismo e populismo. Recursos centralizados na união, emendas parlamentares, apoio político alicerçado na barganha, falta de escuta verdadeira das necessidades e possibilidades regionais.
FM – Às vésperas do pleito as coligações prometem ‘juras de companheirismo’; depois que assumem estas juras desaparecem por não ter os cargos suficientes. Qual sua recomendação neste caso?
Zanin – Pode ser que a expectativa do cargo ajude a arregimentar votos, assistimos isto a cada pleito. Penso ser prejudicial para todos os lados desta “negociata”. Quem aceitou, sabe que não haverá espaço para todos e que a decisão não foi meritória. Quem propôs acredita que terá um governo com comando e alinhado, o que não acontecerá. Nós, que assistimos e validamos como eleitores, nem se fala o tamanho do prejuízo. É a relação perde, perde, perde.
FM – O fim das coligações proporcionais para vereadores deve facilitar a vida dos prefeitos?
Zanin – Penso que deveríamos passar por isto. Vários partidos não conseguirão ter sua representação no Legislativo. Talvez sejam extintos ou unificados mais à frente. Acho isto bom. Para quem é candidato e, historicamente, tem bons votos, corre o risco de não ser eleito, por falta de votos somados em sua legenda. Penso que hoje é mais fácil sair candidato a prefeito, pois todo partido pode ter o seu. As prévias e convenções perderam total valor, não selecionam nada. Este crivo não existe mais. Mesmo em ambiente democrático, que é bom, às vezes, nos deparamos com candidaturas sem muito propósito. Quando assisto algumas proposições em seus planos de governo, vejo muito desconhecimento do que é função pública do ente federado município e das funções executiva e legislativa.
FM – Quais são os maiores desafios que os prefeitos eleitos vão enfrentar?
Zanin – Para falar sobre os próximos gestores, que se candidataram agora e, eleitos, assumem em janeiro de 2021, precisamos levar em conta alguns pontos. O primeiro deles é com relação à territorialidade. Cada território tem suas características e especificidades. Alguns municípios têm boa arrecadação, com presença de grandes empresas de maior impacto não só econômico, mais ambientais e investimentos de grande vulto. Nestas cidades as prefeituras têm certo conforto fiscal, com arrecadação per capita maior, o que não é a realidade de São Sebastião do Paraíso, Passos e alguns outros municípios da região. Alguns deles, como São José da Barra, Fortaleza de Minas e Itaú de Minas, no passado tiveram esse conforto por estes grandes investimentos. Mas, retornando, o grande papel do gestor público é retomar os serviços públicos em sua totalidade. O momento de pandemia trouxe um direcionamento das ações do Executivo municipal, do próprio Legislativo para o enfrentamento da crise. Porém, todas as outras demandas de saúde pública permaneceram, tais como cirurgias eletivas, outros procedimentos, permanecem. Estes trabalhos precisam ser retomados e há a necessidade de serem financiados com uma integração entre os entes da federação. Outro desafio de retomada grande é a volta às aulas.
O que haverá de ser feito com as questões, principalmente as crianças que tiveram dificuldade de aprendizado, principalmente por falta de recursos tecnológicos. Uma série de serviços públicos que precisarão ser retomados dentro de um cenário com arrecadação menor, pois as atividades estão menores. Não adianta o candidato gerar grandes expectativas de dizer que vão melhorar tudo aquilo que não foi feito no passado, porque é um cenário de restrições, de bastante trabalho. O velho modelo de gerar expectativas no estilo ‘tudo farei’ caiu. Mas não cola ou não deveria colar nos ouvidos ou nas intenções de votos do eleitor. Pois não será possível consertar e fazer tudo de uma hora para outra neste ambiente que vivemos. É um momento difícil, que exige coesão e não divisão. Pede-se adesão. Legislativo alinhado e Executivo cumprindo seu papel e o projeto de curto, médio e longo prazos para os territórios, lembrando que o papel do próximo mandatário é de 4 anos, pegando tudo aquilo de bom ou de dificuldades do passado, cumprindo o seu papel, buscando deixar um ambiente melhor pela frente.
FM – Pela sua análise não parece um bom negócio ser o próximo prefeito. Ainda tem mais desafios?
Zanin – Outros desafios que fazem parte da agenda nacional hoje, da gestão pública, é ainda a universalização da Educação Infantil, vagas em creches e pré-escolas. Isso acontece na maioria dos municípios brasileiros. O desafio de complementar a infraestrutura dos municípios com pavimentação (ruas asfaltadas), iluminação pública, saneamento, drenagem – e sabemos que nossas cidades cresceram de maneira desordenada no passado -, mas, o mais importante é que tenha um marco divisor: que a partir de agora, todo o novo, que nasça com infraestrutura e boas condições. Estes assuntos permanecem na pauta até que nossas cidades possam estar estruturadas e organizadas, depois, são as melhorias dos serviços, sejam eles de saúde, de educação, mas também apoiando e estruturando de maneira compartilhada a segurança pública. São vários os desafios locais e regionais. O ideal é ver aquilo que é possível assumir de compromisso com a sociedade para os 4 anos do mandato, não adianta vender ilusão ou impossibilidades. E, claro, é muito importante que o eleitor saiba fazer esta leitura.
FM – Da sua experiência, o que é mais fácil: atender aos pedidos e anseios do povo ou dos vereadores?
Zanin – Anseios individuais, de nenhum dos dois. Uma das funções dos vereadores é organizar as demandas que emanam do povo. Por isto defendem, ou deveriam representar segmentos da sociedade. Governar não é atender demandas pessoais e individualizadas. Isto é desgoverno! Balcão, varejo! Governar é cumprir o papel e as funções públicas e atender demandas organizadas pela própria sociedade, em seus fóruns e planos (Educação, Cultura, Saúde, Esporte, Diretor, outros). Os planos municipais transcendem ao mandato do prefeito, são de dez anos. No quadro nesta página, cito a síntese do que é função pública dos municípios brasileiros, retiradas da Constituição Federal e suas leis complementares.
FM – E, sobre a relação dos deputados estaduais e federais, você acha que os prefeitos têm reciprocidade neste relacionamento? E este relacionamento é necessário?
Zanin – Acho que todos que têm mandato são legítimos em sua atuação. Não acho que deputado deva atender também às demandas individualizadas. Eles nos representam e legislam em suas instâncias de governo. Minha visão sempre foi de descentralização dos recursos para que o município, com boa gestão, melhore os serviços e a infraestrutura das cidades. É muito ruim ficar passando o pires para que o recurso chegue. Nunca me prestei a ficar mendigando este apoio, penso que tem que ser natural, pela própria representação popular. Agora, relacionar, respeitar, reconhecer a escolha e o voto popular é o mínimo que se espera de todos os agentes eleitos.
FM – Foi na sua gestão na Presidência da Ameg que a sede foi construída?
Zanin – O projeto teve início na gestão do prefeito de Passos, Ataíde Vilela, eu consegui, como prefeito de São Sebastião do Paraíso, durante a minha passagem pela Presidência da Associação, o recurso e construí boa parte da sede que hoje é um dos grandes feitos em termos de união destas cidades da região. E a entrega da obra foi realizada na gestão do então prefeito de Delfinópolis, José Geraldo Franco Martins, o Zezé Martins. sos eleitorais estão totalmente informatizados com a implantação recente do PJe – Processo Judicial Eletrônico, o que obviamente facilita o trabalho da Justiça Eleitoral, proporcionando eficiência.