A importância do Plano Diretor Participativo

O futuro das cidades depende, quase sempre, de sua capacidade de planejamento e da definição de estratégias claras de desenvolvimento, de acordo com sua vocação particular. Para crescer de forma harmônica e sustentável, a cidade deve ser capaz de imaginar o que deseja para o futuro e perseguir seus objetivos.

Isso é obtido com um processo de planejamento participativo, que permita a criação e a definição de visões e estratégias compartilhadas de futuro, tendo a educação de qualidade e a inovação como instrumento de inclusão social e crescimento econômico. Implica na capacidade de pensar e planejar democraticamente os rumos da cidade e do seu território físico.

Para isso, é necessário: a) Estabelecer mecanismos de mobilização e participação social, envolvendo especialistas e a sociedade; b) Voltar a pensar em longo prazo de forma séria, responsável e sistemática, elencando um plano de ações com metas e indicadores que possam ser de fato monitorados pela sociedade de forma transparente; c) Estabelecer um processo de comunicação e informação (inclusive digital) e ganhar o compromisso de participação de todos que sonham em construir uma cidade melhor.

“Futuro não existe, futuro se constrói.”

O Plano Diretor (PD) – aprovado na Câmara Municipal e transformado em Lei – é o instrumento básico da política de desenvolvimento do município e representa um conjunto de diretrizes e propostas com o objetivo de ampliar o desenvolvimento socioeconômico, a organização espacial dos diferentes usos e das redes de infraestrutura, para curto, médio e longo prazos, sendo sua implementação de responsabilidade de cada município.

Embora não possuam a mesma dimensão dos problemas dos grandes centros urbanos, os pequenos municípios brasileiros, em sua maioria, enfrentam dificuldades operacionais para a prática do planejamento e da gestão urbana, dada a reconhecida falta de estrutura institucional e administrativa das prefeituras (insuficiência de profissionais qualificados) ou de instrumentos legais e condições operacionais apropriadas. De modo geral, os municípios de pequeno porte têm dificuldades na definição de diretrizes e instrumentos para orientar o seu crescimento, não possuem regras claras para controle do uso e ocupação do solo e quase todos não possuem PD ou este encontra-se desatualizado.

A participação popular ocupa lugar de destaque no Estatuto da Cidade, que a considera uma diretriz geral do planejamento municipal, e na definição da política nacional de desenvolvimento urbano do Ministério das Cidades.

Visita 5: Audiência pública

O período de 21 a 25 de outubro é destinado a Audiência pública. É o momento para apresentação dos dados e mapas temáticos e indicativos dos temas prioritários, eixos estratégicos, planos e projetos a serem pactuados no Plano Diretor, Conferência da Cidade e entrega de minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor.

Niquelândia: crescimento sustentável

Com suporte econômico da iniciativa privada e apoio técnico da Interação Urbana, Niquelândia/GO começa a desenvolver seu Plano Diretor Participativo

 

Ao contrário do que se costuma ver no Brasil, onde é comum a expansão urbana desordenada, as cidades brasileiras – de qualquer porte – podem e devem se desenvolver de forma organizada. E a primeira condição para isso, basicamente, é adotar os princípios do planejamento na gestão pública.

No início de abril de 2019, o município de Niquelândia/GO iniciou oficialmente esse processo. Para isso, vem recebendo apoio de investimentos sociais privados (Instituto Votorantim) e assessoria técnica especializada da Interação Urbana.

“Toda cidade deveria ou poderia crescer de maneira ordenada e oferecer serviços de qualidade aos seus moradores. Esse deve ser o objetivo dos poderes representativos existentes no território (Executivo e Legislativo)”, avalia Mauro Zanin, especialista em gestão pública e diretor da Interação Urbana. Para ele, a necessidade de organização das cidades se torna cada vez mais evidente com o “êxodo rural, o crescimento populacional e a exploração de novos territórios, que provocam o avanço da urbanização”.

 

Plano Diretor (PD): fundamentos

O Plano Diretor visa orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural e também na oferta dos serviços públicos essenciais. O seu processo de elaboração resulta em ordenamento do crescimento e das edificações, em legislação atualizada de regulação e controle e no estabelecimento de espaços de convivência urbana, com áreas verdes, lazer e oferta de serviços públicos.

A Interação Urbana aportou uma equipe de especialistas para apoiar tecnicamente o município de Niquelândia/GO em seu Plano Diretor Participativo. Os trabalhos são coordenados pelo arquiteto Mauro Ferreira, professor do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP (Campus de Franca), e contam com a participação de Cynthia Montans, arquiteta especialista e responsável pela coleta de dados, elaboração das propostas e coordenação das reuniões técnicas e comunitárias, Ricardo Zerbinato, pós-graduado em gestão de cidades e responsável pela área administrativa do projeto, que inclui o processo participativo da população na elaboração do PD, e Marcelo Costa, coordenador dos estudos socioeconômicos e cartografia.

Segundo o professor Mauro Ferreira, as condições para implementação do PD, uma vez que este seja concluído, são de caráter normativo (novas leis complementares, decretos), de orientação às políticas públicas de uso e controle territorial e de intervenções (projetos e obras físicas). Sob o ponto de vista legal, além da Lei do Plano Diretor, são produtos do processo uma nova Lei do Perímetro Urbano e Expansão Urbana, Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano (Zoneamento) e Código de Posturas Municipais.

O plano diretor deve prever um horizonte de dez anos e, uma vez indicadas as ações necessárias, sua execução deve ser garantida pelo orçamento municipal ou outras vias de financiamento. “Os projetos poderão orientar a prefeitura a buscar recursos nas esferas federal e estadual, além de parcerias com a iniciativa privada”, observa Mauro Ferreira.

 

Desenvolvimento do PD

O processo de elaboração do PD dura aproximadamente oito meses e inclui diversas ações de campo. Começa com a coleta de dados na própria prefeitura e em pesquisas primárias e secundárias, que incluem entrevistas e visitas para reconhecimento do território e da realidade local. Também é feito o mapeamento de todo o município, por meio de imagens aéreas, mapas fornecidos pela prefeitura, IBGE e outras fontes. “O mapeamento é essencial para uma leitura mais detalhada do município, possibilitando estudos mais precisos visando melhores soluções urbanísticas”, explica Cynthia Montans.

Um aspecto importante é a participação da população. Ela ocorre em reuniões específicas com a comunidade, quando são levantadas questões que nem sempre estão diretamente ligadas ao planejamento urbano a médio e longo prazos. “Nosso trabalho é fazer uma seleção prévia das sugestões, opiniões, questões levantadas, transformá-las em diretrizes urbanísticas, e levar tudo ao Núcleo Gestor do projeto, a fim de verificar as possibilidades orçamentárias para cumpri-las”, acrescenta a arquiteta.

Para o professor Mauro Ferreira, a participação social é vital para o próprio futuro do PD. “Para que a legislação e os projetos previstos não sofram descontinuidade, é importante abrir espaços de participação da comunidade local e seu envolvimento direto na discussão e na elaboração do plano, de maneira que a comunidade se sinta responsável por ele, e não apenas os poderes constituídos.”

 

Niquelândia

O município goiano de Niquelândia, distante 330 km de Goiânia, tem cerca de 45 mil habitantes. A mineração é a principal atividade econômica, em especial a extração de níquel, mas também de ouro, cobre e cerca de 120 outros minérios. E o grupo Votorantim, nesse aspecto, é uma das principais organizações privadas atuantes na região. Mas a cidade também é um importante polo turístico do Estado, devido a eventos folclóricos e ao Lago de Serra da Mesa, e tem ainda uma diversificada agropecuária.

Nessas condições, o território recebe um grande fluxo migratório de pessoas em busca de oportunidades, o que impacta o número de habitantes, moradias, saneamento, energia e também o tráfego de veículos, entre outras variáveis urbanas. “A necessidade de organização do território é evidente”, diz Zanin. “E a Votorantim, por meio do Instituto Votorantim, está apoiando o município ao assumir o compromisso de monitorar, potenciar e mitigar esses impactos, dependendo de sua característica.”

Equipe IU faz nova rodada de encontros

A equipe de consultores da Interação Urbana (IU) esteve novamente em Niquelândia, de 24 a 28 de abril (2019), para assessorar o município na revisão de seu Plano Diretor – ação que faz parte do Programa de Apoio à Gestão Pública do Instituto Votorantim. Foram realizadas duas reuniões urbanas e cinco rurais nas regiões de Buriti Alto, Muquém, Rio Vermelho, Indaianópolis e Vila Taveira, todas em escolas municipais.

As atividades incluíram uma reunião específica com profissionais de engenharia, arquitetura e urbanismo municipal na sede da Associação Comercial e Industrial e uma reunião com o Sindicato Rural. No encontro com a comunidade, foram utilizadas dinâmicas de grupo para ouvir as demandas locais relativas a habitação, saneamento, mobilidade e infraestrutura.

Todas as informações obtidas nesses encontros serão sistematizadas e constituirão importante subsídio para a proposição de ações do poder público de Niquelândia no curto, médio e longo prazos.